Invasão de Privacidade

Segue uma matéria para qual dei uma entrevista há algum tempo e que considero muito atual sobre a forma como as pessoas vem se relacionando com as outras, principalmente no que se refere ao que é público e ao que é privado. Esta matéria trata de relacionamentos, insegurança, espionagem e curiosidade.

Invasão de privacidade

Insegurança, ciúmes, o que faz alguém bisbilhotar a vida do parceiro?

Por Rosana F. • 16/03/2009


Em tempos de Big Brother, quem não quer dar uma espiadinha? O seu namorado não é filmado 24 horas por dia, mas parte da vida dele está ao alcance da mão - basta um clique no Orkut. Ou uma olhadinha na caixa de emails que ele vive esquecendo aberta. O que dizer do celular dando sopa em cima da mesa? Quando se está desconfiada de algum deslize, ai, que vontade que dá de fuxicar as coisas dele atrás de alguma prova que o incrimine. Mas peraí: isso não é invasão de privacidade?

"Só de leve", responde a estilista Juliana S., de 31 anos, que, quando pode, dá um confere no celular do marido. "O que é que tem? Quero saber se ele está andando na linha", defende-se, admitindo que pega o aparelho e checa não só as chamadas recentes, mas, principalmente, as mensagens enviadas e recebidas. Até agora, não achou nada comprometedor. "Graças a Deus! Mas fico de olho e não vejo nada de errado em cuidar do que é meu", diz ela.
Para reconquistar a confiança de quem foi invadido, o jeito é admitir o erro e as próprias inseguranças.

Sem dúvidas, os avanços tecnológicos colocaram várias pulgas nas orelhas das namoradas com tendência ao ciúme. São tantas as possibilidades de controlar com quem o gato fala e em que termos, que sites como o Orkut parecem um banquete para as mais inseguras. A jornalista Alexandra M., 31, se aborrece toda vez que entra na página do namorado. "Tem sempre umas engraçadinhas que deixam recado", diz ela, que tira satisfações com o rapaz. "Ele fala que não é pra eu ficar bisbilhotando, mas o Orkut é público. Ele sabe que qualquer um pode olhar. Por que eu não olharia?", questiona, contando que já brigou muito por conta de scraps assanhados. "Tem muita comunidade sobre o tema, como ‘O Orkut atrapalha o meu namoro'. Mas o problema não é o Orkut e sim as meninas abusadas", resume.

A psicóloga Maíra Dourado lembra que a curiosidade é própria do ser humano. "Desde crianças, queremos descobrir segredos e a tecnologia moderna facilita isso. Antigamente, a fofoca era feita na porta de casa. Hoje é tudo muito mais rápido, por conta do Orkut, do MSN, email", enumera, salientando que muitos casais já brigaram por conta do site de relacionamentos, tanto que foram criadas novas opções de privacidade para amenizar esses problemas. "Quem invade o email do parceiro é como se estivesse arrombando o cadeado do diário de dez, quinze anos atrás", compara, frisando que trata-se de um grande desrespeito ao espaço do outro. "É um sinal óbvio de insegurança e abre espaço para que o outro aja da mesma forma. Quem é invadido se sente violentado com toda razão", afirma a psicóloga.

Maíra aponta que quem bisbilhota ostensivamente a vida do parceiro está precisando de cuidados. "A pessoa não percebe que está violentando o espaço alheio. Ela se vê como vítima, ainda que esteja atacando o outro como forma de se defender", explica. Para reconquistar a confiança de quem foi invadido, o jeito é admitir o erro e as próprias inseguranças.

Quando as suspeitas são muitas, há quem procure agências de detetives para averiguar a conduta do parceiro. O detetive Rafael da agência Márcia & Rafael revela que 70% dos casos investigados por ele são de infidelidade e que homens e mulheres em igual proporção procuram seus serviços.
 
“Segundo o detetive, são poucos os casos em que a infidelidade não fica comprovada.”
"Fazemos um contrato de sete dias de investigação. Nesse período o investigado será vigiado desde o momento em que sai de casa até voltar, não importa o horário", diz Rafael, garantindo que, atualmente, não há risco de o investigado notar que está sendo seguido, uma vez que as câmeras ficam escondidas em bonés, bolsas, canetas ou óculos e que uma equipe grande se reveza para que ninguém seja reconhecido. O valor da investigação: R$ 2 mil. "Pessoas de todas as classes sociais no procuram. Quando a pessoa é mais humilde, é comum que toda a família faça uma vaquinha para pagar a investigação", revela ele, que considera o valor um investimento no futuro familiar.

Segundo o detetive, são poucos os casos em que a infidelidade não fica comprovada. "Para uma pessoa chegar a nos procurar, é porque ela já tem muitos indícios de que está sendo traída. O parceiro muda o jeito de vestir, fica preocupado demais com o telefone, não atente ligações. Então a pessoa tem praticamente certeza da infidelidade e só quer as provas para poder levar ao advogado e chegar a um acordo", explica, lembrando que oferece ao contratante farto material como vídeos, fotografias e um relato detalhado do que o traidor fez, para onde foi, a que horas e, principalmente, com quem.Com as provas em mãos, Rafael prepara a pessoa traída para dar o flagrante. "A gente conversa para que não haja agressão física, checa se a pessoa não está armada. Aí vamos juntos até o local e fazemos o flagrante", afirma ele. Na maioria dos casos, rola a maior lavação de roupa suja. "Às vezes a traição é perdoada. Acontece de, tempos depois, a pessoa voltar a me procurar, desconfiada de nova traição", avisa.

A psicóloga Maíra Dourado afirma que a investigação da vida do outro pode acontecer em todos os níveis sociais. "Cada um vai procurar a ajuda que achar mais apropriada. Tem gente que procura o detetive, tem gente que conta com amigos e familiares para descobrir coisas do outro. Tem gente que invade a caixa de emails. Tudo isso é um tipo de investigação", finaliza.

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