Para além do sentido de brincar


Maira P. B. Dourado




A criança relaciona-se com o mundo principalmente através das sensações do que pela razão, assim ela percebe o mundo, o que reflete no seu comportamento. Brincar, jogar e movimentar-se são formas da criança se relacionar no mundo. Quanto mais nova a criança, torna-se mais fácil perceber este modo de comportar-se. É seu modo de estar no mundo. Podemos afirmar que a criança, ainda, não está totalmente inserida no mundo da razão e da verbalização, elaborando, então, suas questões através do lúdico e da sua imaginação. Enquanto brinca, está elaborando suas questões e essa atividade, diminuída ou aumentada, permite perceber como se estabelecem as relações durante o período de internação.

A infância é, segundo autores existencialistas, um período em que há o predomínio da vivência estética, ou seja entregue às sensações, não submetida aos critérios éticos, e na medida que cresce estes referenciais acabam por se impor e muitas vezes passam a submeter o prazer ao dever.

A criança precisa ser compreendida como sujeito, ser-no-mundo, ou seja, um ser dentro de um contexto histórico, econômico, político que está em relação com o mundo. A criança pertence a uma família, brinca, freqüenta uma escola, está situada numa rede de relações e, este é seu mundo.

As pessoas são capazes de desenvolver formas de se relacionar com situacoes limites. As estratégias para entrar em contato com estas situacoes são desenvolvidas por cada um, são singulares e, são influenciadas pelo contexto no qual essa pessoa está. A criança numa situação crítica, cria suas estratégias utilizando-se principalmente o brincar, o lúdico, a sua imaginação. Permitir a criança brincar e estimular seu pensamento mágico faz com que elabore esse processo. Contudo, pode ser simplesmente um brincar sem significados.

Podemos-se considerar que o brincar é a forma de relação da criança com o mundo, ou seja, do mundo infantil para o mundo adulto. A criança pode utilizar da brincadeira para se comunicar, expressar suas angústias, seus medos e seus desejos. Da mesma forma, a experiência lúdica livre ou estimulada por um profissional, pode ser terapêutica, possibilitando à criança a re-significação, daquilo que ela não pode mudar, se reconhecendo na sua condição existencial e assumindo a responsabilidade nas escolhas efetuadas.

Sabemos que a criança não pode mudar tudo que a atinge, a magoa ou a fere, mas pode, muitas vezes com a ajuda de um profissional, aprender a lidar com tais situações para que sejam fáceis de ser atravessadas e não deixem sequelas ou traumas para serem levados à vida adulta.



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